Poesias, contos e afins.

Por vezes Azedo, por vezes Doce mas sempre com gosto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

.:Pequenas cenas:.

Pequenas cenas de um café da manhã.

De manhã ela andou de costas até a cozinha, como uma criança quando aprende a caminhar e com todo o medo cautelosamente vai pé após outro e as mãos segurando delicadamente nos móveis. Em toda sua vida nunca experimentara algo tão novo e tão simples ao mesmo tempo, ela começou a rir de si mesma e logo olhou para os lados com medo de que alguém pudesse a repreender por rir de algo tão simples que qualquer criança experimenta. Mas ninguém estava lá.

Ao chegar na cozinha, ficou suavemente nas pontas dos pés para pegar a caneca nova que tinha guardado para um dia que havia chegado. Quando ela comprou essa caneca, não sabia realmente o motivo mas se apegou de forma tão poética que decidiu que levaria e quando sentisse que fosse a hora, o abriria. Chegada a devida hora, ela tirou o plástico que envolvia a caneca como um ritual de desvirginização indolor, passava a mão pelo braço da caneca e olhava com olhos de criança. Depois ela pôs para esquentar seu café matinal em sua máquina de café expresso que ganhara de uma vaquinha de amigos quando ela foi morar sozinha há poucos meses atrás. E passado algum tempo ela retirou sua caneca cheia de café e ela não conseguiu tomar no momento, queria se perder olhando para a fumaça que saía de sua caneca, parecia um rito de purificação, ela inspirava o doce cheiro de café enquanto fechava seus olhos. Decidiu então que chegara a hora de tomar seu café, então pegou alguns biscoitos recheados para acompanhar. Hábito de infância que nunca deixara de lado, seus amigos achavam muito engraçado uma garota já na casa dos 20 ainda se divertindo com biscoitos com feições pseudo-humanas. Mas ela gostava e não conseguiria largar do nada.

Quando terminou todas necessidades corporais, ligou seu aparelho de som e pôs para tocar “superstars” do David Fonseca, e como nunca poderia ter dançado ela dançou, seus movimentos eram doces, suaves e harmônicos. Qualquer vidente ou até mesmo charlatão afiria que por lá haviam luzes de diversas cores e tonalidades. Um pintor diria que nunca teria visto uma imagem tão linda e nem pintaria por medo de ser um pouco menos do que era. E um escritor ficaria quieto em seu canto apenas a observando nesse momento mágico em que nada mais significaria tanto do que o fato de elas estarem no lugar que deveriam estar.

Daniel Faleiro 08.10.2007

terça-feira, 31 de julho de 2007

Folhas Secas

Foto: Clara Grivicich


Eles dois caíram como duas folhas solitárias numa árvore em pleno outono, não havia mais esperanças de se sustentarem no galho da mentira, estavam apenas presos minimamente, o vento da verdade cortaria o elo entre essas folhas quase mortas e a árvore.
"Não há mais nada entre nós, né?"
"Apenas esse galho frágil e seco que ainda nos sustenta."
"É, mas logo ele se partirá e não mais teremos algo em comum."
"Você acha que nos salvaremos quando cairmos?"
"Não."
"E se ficarmos não sobreviveremos?"
"Também não"
"Então? Qual a diferença da escolha se teremos o mesmo fim?"
"A questão é que depende se morreremos presos à uma mentira que uma hora ou outra cairá, ou se nos jogamos logo, e morremos da maneira que quisermos: corajosos, derrotados mas de cabeça erguida."

E assim os dois caíram no final.

Por Daniel Figueiredo.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Histórias reais - Conto colegial

Conto Colegial (2º Parte) - 26.06.07

Em grandes histórias de amor, nunca sabemos quando somos fisgados, não sabemos de onde vem, mesmo que preparados, e nem que forças fizeram a gente se ligar com outras pessoas. É apenas o amor. A professora entra e, seguindo as recomendações de seus alunos-cupidos, vai à prateleira de física e pega um livro de Hawking.

- Nunca pensei que pegaria um livro desses, se ele não chegar logo, eu vou dormir – pensou a professora de espanhol.

Enquanto isso, do outro lado do livraria entrava o professor de física, que não conhecia muito sobre poesia e precisou pedir ajuda, precisava de algum livro de poesias de Pablo Neruda, assim que encontrou ficou andando pela livraria sem ao menos mostrar qualquer interesse no que estava lendo. Ao passo que ela estava tranquila, sem grandes expectativas, ele estava muito ansioso, sabia que poderia acontecer qualquer coisa, o fato de não poder saber com que e com quem se está lidando o faz ter dores em sua barriga como quando era jovem e ia pela primeira vez para o colégio.

Já haviam passado uns cinco minutos e nenhum dos dois haviam visto o outro, a livraria não era imensa assim, a razão é que dois, apesarem de reagir distintamentes à esta situação, pareciam estar boicotando este encontro. O medo maior não era dar tudo errado, mas decepcionar seus alunos que dedicaram esta semana à este dia. A este “simples café”. Nenhum dos dois gostariam de voltar na próxima semana e dizer que tudo ocorreu contrário às suas vontades, preferiam não se ver do que encararem essa probabilidade.

A professora de espanhol decidiu ir na prateleira de livros de poesia para ver o que tinha de novo – ela estivera na parte de física durante o tempo, onde o professor não esperava encontrá-la – e enquanto caminhou em direção, ainda segurando aquele livro do Hawking, tropeçou em um rapaz que ela nem pode ver seu rosto. Os livros de ambos caíram. Logo depois, os dois foram pegar os livros para devolverem e então subiram seus olhos e seus olhares, do livro para as pernas, das pernas para as cinturas, das cinturas para os peitos, terminando nos rostos seguido de uma palavra que parecia estar ensaiada.

- Me desculpe – disseram os dois no mesmo momento.

- Este livro é teu, mil perdões, eu estava pensando em umas coisas e.... – percebeu que o livro era do Neruda, e naquele momento pensou “meu deus, é ele. Que péssima maneira de se começar um encontro” e seus olhos fitaram o professor, percebeu que ele era lindo, tinha uns olhos lindos e um olhar de tirar o fôlego.

O professor ao devolver o livro, percebeu toda história, o livro de física acusava que esse tropeção deles foi tramado pelos Deuses, a mulher por quem ele estava ansioso desde sua entrada na livraria estava na sua frente. Ela era linda, uma das coisas mais lindas que ele tinha visto em sua vida, era muito atraente e com um sorriso jovial, e sem muito o que dizer apenas falou:

- Olha, não é que você era o que os meus alunos disseram...- logo em seguida corou e não entendeu como saíram essas palavras.

Então se apresentaram, começaram conversar, um café extendera-se até o almoço, o almoço até café da tarde. As horas passaram muito rápido, não saberiam dizer sobre o que tinham falado durante esse tempo todo, falavam tentando encontrar semelhanças. E encontraram muitas, até o livro que ela escolheu era o seu predileto. Falaram sobre Bretch, Godard, Lênin, filmes latino-americanos e até mesmo sobre Hawking. Cada vez mais sentiam em seu interior que deveriam agradecer muito aos seus alunos por proporcionarem uma grande tarde aos dois. Realmente as coisas estavam dando muito certo.

***

Na segunda-feira, os alunos estavam na frente do colégio para esperarem a professora. Não conseguiriam aguêntar, ainda que apenas por poucos minutos. Queria de pronto todo relatório sobre o encontro e os resultados. Mas apenas uma cena e um gesto justificou tudo, não precisariam mais nada. No outro lado da rua, encontravam-se os dois professores, o professor de física e a professora de espanhol. Estavam de mãos dadas. Assim que viram esse gesto que literalmente valia mais que mil palavras, todos os cupidos disseram baixinho como que num sussuro e numa sincronia de causar inveja em muitas orquestras sinfônicas. “Missão cumprida”.

E assim, o livro do amor ganhou mais uma página na sua longa história.

Histórias reais - Conto colegial

Conto colegial (1º Parte) – 26.06.07

Neste dia o sol nasceu mais radiante: eram raios de amor.

Sete da manhã.. O sinal do colégio estava com a corda toda, gritava para as crianças dizendo que já deveriam estar em suas salas prontas para estudar, mas era segunda-feira – o dia oficial da preguiça – e não poderiam estar diferentes. Arrastavam seus pés sentindo o peso do mundo, olhos bem cansados que mostravam um fim de semana intenso, passado na internet ou na “night”, e muita, mas muita história para contar. Os alunos do terceiro ano já se adentravam para sua sala de aula, a mesma de sempre, aquela em que deixariam junto com o colégio este ano – muita tristeza e muita alegria –. Passado alguns minutos, entra a professora de espanhol, não era uma professora qualquer, era a única de todo aquele colégio com menos de 40 anos e por esse fator ela se aproximava mais dos alunos do que do corpo docente. E para ela os alunos eram como amigos.

- Ai gente, como é ruim passar um fim de semana sozinha aos 35 anos – desabafou a professora enquanto escrevia algumas coisas básicas no quadro – você chega, imagina que tem um rapaz elegante a sua espera afim de te chamar para sair e não, tudo que resta é um filme blockbuster e meu cachorro.

Os alunos atentos – mais atentos nesse momento do que em todas as outras aulas de espanhol – serviram de confidentes, analistas, psicólogos e tudo que tinham direito, conversaram e conseguiram além de elevar a auto-estima da professora, conseguiram enrolar a professora por todo tempo de aula. No fim, saíram vitoriosos.

Terça-feira. O sol brilhava ainda radiante, o destino planejava algo especial para esta semana.

O professor de física chegou um pouco atrasado hoje, dissera que esteve em um engarrafamento em uma destas avenidas que tem nome de pessoa. Os alunos não se importaram, eram menos uns minutos de aulas sobre as espelho côncavos e convexos ou qualquer fórmula sobre lançar algo para o alto ou se jogar de um prédio. Entretanto, tão logo começara a aula, um assunto que nada tinha a ver com a proposta de aula surgiu: o professor de física estava solitário. “Estou solitário”. E neste momento um aluno lembrou de algo no dia anterior, mas não era sobre alguma matéria.

- Júlia, lembra que ontem a professora disse que estava solitária? A professora de espanhol....Se lembra? Então,o que acha de a gente unir esses dois? É, ela e o professor de física, são da mesma idade e são tão fofos! – disse uma aluna excitada com sua grande idéia.

Pareceu que todos os alunos tiveram logo depois a mesma idéia da aluna e logo em seguida uma outra aluna levantou o braço.

- Diga.

- Professor, você conhece a professora de espanhol? Ela está sozinha e é muito bonita!

- Bem, não, só conheço velhas e barangas aqui neste colégio. É provável que nunca tenha visto ela porque ela dá aula segundas, quartas e sextas e eu terças e quintas.

Logo começaram alguns murmurinhos em toda a sala, a solidão coincidente de dois professores tornara-se motivo de longas conversas pré, durante e pós provas. E o professor, já encabulado, tentou retornar para a aula.

- Ei pessoal, por favor, falem disso em outra hora pois temos que retornar a matéria pois o vestibular está aí na porta de vocês e quero que todos vocês atravessem ela. Mas só mais uma coisa: ela é realmente bonita?

***

Durante a quarta-feira, os alunos ficaram bolando um plano para os dois professores mas não chegaram a um denominador comum: uns sugeriam um cinema, outros um café literário, outros até mesmo um shopping cliché. Matutaram mais em torno desse encontro do que na prova que tiveram de literatura: quem se importava com “Macunaíma” quando tinha uma das histórias mais lindas a serem construídas em que eles próprios participavam? A professora de espanhol – que neste dia era no último tempo – estava interessada um pouco mais nesse professor de física e até rolavam algumas piadinhas:

- Quem sabe professora, rola uma lei de atração entre vocês dois? – e em seguida, vários risinhos presos ecoaram pela sala de aula, a professora enrubesceu e desviou sua aula para uma poesia de Pablo Neruda, seu poeta predileto.

Na quinta-feira, a aula de física começou de uma forma muito ímpar, seus alunos cumprimentaram o professor de uma forma nunca escutada antes:

- Hola chico, ¿Como estás?

- Ai, ai, só vocês mesmo. Vocês hoje estão muito animadinhos espero que continuem assim enquanto eu falar sobre resistores.

A aula continuou e o professor estava muito bem se desviando de todas as investidas dos alunos em falar sobre a professora, mas mesmo esquivando-se o professor mostrava alguns interesses. No fim da aula, o professor se entregou praticamente ao falar sobre avaliação e conselho de classe.

- Bem, galera, estudem bastante porque não gostaria de dar nenhuma nota abaixo de dez para nenhum de vocês. A matéria é basicamente eletricidade e óptica, nada complicado, – alguns alunos ironizavam as palavras do professor – e vou lançar só mesmo depois do conselho de classe daqui a duas semanas. A professora de espanhol deverá estar lá e vou aproveitar e conhecê-la, - ao falar isso lembrou-se de que faltavam ainda duas semanas para esse inevitável encontro, muito tempo para sua ansiedade que já o perturbavam desde que os alunos o encheram com esperanças, e sua expressão o condenava – bem, e lá vou poder saber se essa professora é tudo que vocês falam.

Ao terminar de falar sobre a avaliação e sua confissão sobre seu interesse em conhecer a professora, uns alunos se reuniram estrategicamente e aquela mesma aluna que tinha reparado pela primeira vez que os dois professores poderiam ter uma história em conjunto, foi e disse para todos seus colegas:

- Gente, tive uma idéia, que tal a gente mandar os dois na sexta-feira para tomar um café naquela livraria café que tem aqui perto, e aí cada um segura um livro para poderem se identificar.

- É, e poderíamos mandar ele segurar um livro de poesias do Neruda e ela segurava um livro qualquer de física, que tal?

Todos acordaram sobre isso, acharam que iria ser um encontro bem bonito e poético como em grandes romances. E antes que o professor saísse de sala, foram falar com ele, explicaram que deveria estar lá às 13:00h e deveria segurar um livro para professora poder identificá-lo. Ele demorou uns cinco minutos para aceitar pois sua ansiedade e insegurança o tomavam por completo,mas aí rendeu-se diante dos esforços de seus alunos. Mereciam isso.

Na sexta-feira, os alunos do terceiro ano entraram rapidamente para seu primeiro tempo de espanhol, não poderiam estragar em nada aquele que entraria para história do colégio. Todos atentamente buscaram falar tudo em espanhol para a professora que sentiu até surpresa.

- Olha, o que aconteceu com vocês para estarem todos bem animados hoje?

- A, hoje é seu grande dia professora, a partir de hoje não terá mais que recorrer à blockbusters no sábado, poderá pegar um cineminha.

- O que estão me aprontando.

Todos contaram, explicaram tudo desde está lá pontualmente até lembrar de portar um livro qualquer de física para que ele a identifique, ela aceitou de primeira, não tinha nada a perder, era apenas um café à tarde. Pensando que o destino planejava apenas um cafezinho para ela, a professora de espanhol seguiu após o termino das aulas – pois dava aulas em outras turmas – direto para o Café sem grandes expectativas. Apenas um café à tarde.

***


Continua...

terça-feira, 19 de junho de 2007

Doçura da Tristeza (02.02.07)


E ela se desfez em lágrimas. O namorado olhou para ela e ficou triste por um momento, mas logo lembrou-se que deveria se manter alegre para poder ajudá-la, e finalmente disse:

“Amor, o que houve?”

“Não sei, estou triste, não sei o que acontece, não queria estar assim, estou sempre te aborrecendo com essas coisas minhas.”

“Claro que não meu amor, eu quero te ver alegre e por isso estou disposto sempre a te ajudar. Conte-me...”

“Não sei o que dizer, queria ficar melhor, queria poder sorrir hoje, te beijar e rir com você.”

“Mas o beijo na tristeza é mais doce, a doçura da tristeza”, e a beijou suavemente colando levemente seus lábios nos dela enquanto fechavam os olhos, e por um segundo se esqueceram o mundo. Depois se beijaram profundamente, como dois apaixonados que não se viam há tempos e agora se reencontram. Ao terminar sorriram um para o outro, e ela continou:

“Devo estar feia, muito feia com esse rosto cheio de lágrimas a cair em meu rosto, os olhos vermelhos de tanto afogarem as mágoas interiores”. E ela virou para o outro lado. “Não quero que me veja...nem tente”.

Ele tentou vê-la.

“Não, não. Estou feia.”

“Claro que não, você está linda, muito linda”, e ela virou para ele.

“Mas, estou triste.”

“Quem disse que a tristeza não é bela?”

E continuou

“Amor, sabia que ultimamente tenho narrado minha vida enquanto ando por aí?”

“Ah é? E como seria agora?”

“Eu diria: Eles se beijaram intensamente por um longo tempo, sentiriam muito mais por causa da sensibilidade da tristeza que pairava sobre eles, e depois eles fariam amor, seria a melhor vez de ambos.”

“Que estranho. Estando triste e chorando a gente chegar e fazer amor, e ainda por cima sentir que esta vez fosse a melhor”, e ele apenas sorriu para ela.

E fizeram amor. Foi a melhor vez de ambos, sentiram-se unidos por um laço mais forte que toda tristeza do mundo e puderam ter, por um momento, a sensação de que o mundo pertencia a ambos e que poderiam ser felizes para sempre.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

A esperança continua....

II

Quando estamos no mundo da lua, as coisas da Terra nos parecem totalmente desinteressantes. O trabalho de Renata, que sempre lhe foi simpático em todos esses anos, – ela trabalha numa locadora fazendo de tudo, mas especialmente atendendo as crianças, com as quais tem mais facilidade de lidar e carisma – do nada, como num passe de mágica, se tornara nada além de um trabalho. As crianças perderam seu brilho – melhor, foram eclipsadas por algo maior e mais forte – mas não precisamos nos deter sobre esta sensação experimentada pela Renata. Você já sentiu isso antes.

- Conte-me o que aconteceu com você, está tão avoada – disse sua colega de

trabalho.

- Ah, Anie, simplesmente não consigo encontrar as palavras certas para te

explicar.

- Hmm, pela sua cara deve estar apaixonada, né?

Renata sempre teve medo dessa palavra, – “apaixonada” - para ela é muito forte essa palavra, pois trazem duas sensações limites: o sublime e o nefasto. Poderíamos também lê-los como a vida e a morte, o amor e o ódio. E no medo do que uma afirmação a esta pergunta poderia ocasionar, apenas respondeu:

- Talvez.

- Ok, então tá. Apesar de que com essa sua expressão facial, não precisava

nem mesmo perguntar.

- Eheheheh.

Para a sorte de Renata uma criança foi perguntar sobre um filme de dinossauros que iam para a Lua, e não teve de sofrer o devir da conversa. Aquela criança abençoada atrapalhando uma conversa na hora mais oportuna.

Durante seu trabalho neste dia, a única coisa que fez Renata voltar a realidade foi o fato de que mesmo passado horas, David ainda não aparecera. Este fato de poucas palavras tem grande impacto e dúvida: será que ele não iria mesmo passar na locadora? Tão logo se fez essa pergunta, ela se lembrou que não tinha o telefone dele para perguntá-lo sobre sua ausência. Na noite passada falaram quase que integralmente sobre Renata e sua vida complicada, e muito pouco se falou dele, mas o bastante para Renata sentir que havia algo de especial nele. O sublime dara lugar para o nefasto em seu coração. Depois de estar no que é considerado “o que há de mais elevado nos sentimentos”, agora experimentara o reverso, ainda que por alguns segundos. Renata sentia que queria sumir completamente.

Após o expediente, começara a chover e Renata resolvera ir direto para sua casa, e ao caminhar sob o céu cinza e impreciso, ela experimentou algo de nostálgico neste chuva, algo nela fazia lembrar de coisas das quais não gostaria de lembrar. A chuva tornara-se cúmplice de um segredo.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

A Esperança dorme ao lado.

Boa noite pessoal,
Estou com um conto recente que foi produzido a partir da oficina de conto Conrad Rose (mais informações fale comigo) e gostaria de compartilhar com vocês. Peço que comentem sobre o conto, dizendo se gostaram ou não,o por quê?, e (a mais importante) se gostariam que essa história continuasse.

Muito obrigado.

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Neste dia, Renata acordara com sua cama ocupada por alguém além dela. Era David. Renata estava muito feliz por estar com ele, sentia nele algo de especial, daquelas coisas que não devemos perder. Depois de olhar seu relógio, como de costume, lhe disse:

- Bom dia amor – e beijou sua testa.

Como ainda estava adormecido, apenas balbuciou algumas palavras e fechou os olhos.

Renata foi tomar um banho para despertar depressa para não se atrasar para o trabalho, e lá no chuveiro a água que caia em todo seu corpo era uma benção, uma benção divina por ter David com ela hoje. Após a benção, caminhou até a cozinha para seu café matinal e, ainda anestesiada pela noite anterior, esqueçeu-se da água fervendo na chaleira, restando apenas o bastante para meia xícara.

- Pareço aquelas adolescentes apaixonadas que ficam ofuscadas pela paixão – pensou Renata.

Tomou seu café apressada pois seus devaneios a fizeram deter-se em 15minutos.

- 15 minutos pensando no meu príncipe encantado transformado em bela adormecida.

E tão logo terminara seu chá-verde e suas torradas, disse para David:

- Um beijo, passe na locadora – e sorriu quando David respondeu-lhe.

- Claro amor.

“Claro amor”, essa palavra ecoaria por muito tempo ainda em sua cabeça, que estava pertubada desde a morte de seu pai, vitimado pela pneumonia recentemente – seu último parente próximo e último motivo de seus sorrisos, pois mesmo doente ainda a fazia sentir-se como uma criança no seu melhor natal –.

- Como é bom ouvir isso – pensou sobre a simples frase de David, “Claro amor”.

Renata fechou a porta e caminhou para seu trabalho como um novo motivo para viver.

(Continua ?)