Por vezes Azedo, por vezes Doce mas sempre com gosto.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

A esperança continua....

II

Quando estamos no mundo da lua, as coisas da Terra nos parecem totalmente desinteressantes. O trabalho de Renata, que sempre lhe foi simpático em todos esses anos, – ela trabalha numa locadora fazendo de tudo, mas especialmente atendendo as crianças, com as quais tem mais facilidade de lidar e carisma – do nada, como num passe de mágica, se tornara nada além de um trabalho. As crianças perderam seu brilho – melhor, foram eclipsadas por algo maior e mais forte – mas não precisamos nos deter sobre esta sensação experimentada pela Renata. Você já sentiu isso antes.

- Conte-me o que aconteceu com você, está tão avoada – disse sua colega de

trabalho.

- Ah, Anie, simplesmente não consigo encontrar as palavras certas para te

explicar.

- Hmm, pela sua cara deve estar apaixonada, né?

Renata sempre teve medo dessa palavra, – “apaixonada” - para ela é muito forte essa palavra, pois trazem duas sensações limites: o sublime e o nefasto. Poderíamos também lê-los como a vida e a morte, o amor e o ódio. E no medo do que uma afirmação a esta pergunta poderia ocasionar, apenas respondeu:

- Talvez.

- Ok, então tá. Apesar de que com essa sua expressão facial, não precisava

nem mesmo perguntar.

- Eheheheh.

Para a sorte de Renata uma criança foi perguntar sobre um filme de dinossauros que iam para a Lua, e não teve de sofrer o devir da conversa. Aquela criança abençoada atrapalhando uma conversa na hora mais oportuna.

Durante seu trabalho neste dia, a única coisa que fez Renata voltar a realidade foi o fato de que mesmo passado horas, David ainda não aparecera. Este fato de poucas palavras tem grande impacto e dúvida: será que ele não iria mesmo passar na locadora? Tão logo se fez essa pergunta, ela se lembrou que não tinha o telefone dele para perguntá-lo sobre sua ausência. Na noite passada falaram quase que integralmente sobre Renata e sua vida complicada, e muito pouco se falou dele, mas o bastante para Renata sentir que havia algo de especial nele. O sublime dara lugar para o nefasto em seu coração. Depois de estar no que é considerado “o que há de mais elevado nos sentimentos”, agora experimentara o reverso, ainda que por alguns segundos. Renata sentia que queria sumir completamente.

Após o expediente, começara a chover e Renata resolvera ir direto para sua casa, e ao caminhar sob o céu cinza e impreciso, ela experimentou algo de nostálgico neste chuva, algo nela fazia lembrar de coisas das quais não gostaria de lembrar. A chuva tornara-se cúmplice de um segredo.

Um comentário:

Anônimo disse...

O amor tem disso...Ao mesmo tempo que nos dá uma razão para viver, ele também faz as outras coisas que gostamos tanto perderem a graça. Vai entender...rs...

Tô adorando a história! :)